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AHMAD REZÂ AHMADI
( IRÃ )
Aos 66 anos, Ahmad-Rézâ Ahmadi ainda representa a geração de poetas que, há quase quarenta anos, contribuiu para enriquecer a poesia com uma dimensão prosaica. Sua poesia se beneficia de certas características da prosa: simultaneamente narrativa e descritiva, ela reflete os vários aspectos da vida cotidiana, encimada por um leve véu de poesia. O poeta busca suas palavras no labirinto da vida cotidiana, nos fragmentos da natureza em seu ambiente imediato: a cereja, a laranja, uma maçã vermelha, uma cesta, o pão e o chá quente, todos vêm colorir sua linguagem. No entanto, esta última não é simples nem simplista, pois o autor domina a arte de evocar imagens estranhas, "puras criações da mente", como diria Reverdy. Isso torna o acesso à sua obra um tanto difícil. Alguns versos, por sua extensão, complicam ainda mais a leitura, às vezes excedendo o espaço de uma página inteira.
Há quarenta e cinco anos, Ahmadi contribui continuamente para o enriquecimento de nossa herança poética. Ele já publicou inúmeras obras, incluindo "Os Diários de Vidro", "O Bom Tempo das Paixões", "Eram Dez da Manhã" e seu texto mais recente: "O Chá Esfria na Mesa na Sexta à Noite". No entanto, ele parece temer a velhice, daí sua nostalgia por tempos passados.
POESIA SEMPRE –No. 32 – Ano 16 – 2009. Poesia contemporânea do Irã. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2009. Editor: Marco Lucchesi. Capa: Rita Soliéri Brandti. ISSN 9770104062006.
Ex. bibl. Antonio Miranda.
Aleia das rosas
Quando lá ainda havia infância,
Eu abria o céu
E trançava meus guarda-sonhos.
Eu era a estrela dos olhos de duas mulheres,
Uma era a minha mãe, a outra eu não conhecia.
Eu costumava ver os jornais
Sem saber que as notícias do dia
para mim se tornariam história.
Eu costumava ver os jornais
Sem saber que as notícias um dia
para mim se tornariam história.
Não por uma árvore...
Não apor uma casa...
O cigarro da vida eu enrolava com
tabaco úmido.
Eu
E minha mãe,
Não tínhamos nem a toalha de comer,
Comíamos mesmo era no chão desnudo,
E ainda que a tivéssemos, teríamos
coberto com a vida sua estampa florida,
Não como a confusão de fruta no
bazar da cidade...
Minha vida se fechou quando comigo deparei
na água da fonte.
Naquele dia os peixes se tinham ido
com as cores úmidas da vida
Para a aleia das rosas.
Tradução de MAURICIOMENDONÇA CARDOZO.
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Página publicada em junho de 2025.
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